Victor Belfort fará sua primeira luta sem reposição de testosterona desde 2011

O TRT, ou tratamento de reposição de testosterona, está banido do MMA pela Comissão Atlética de Nevada. O estado americano costuma abrigar os maiores eventos de luta e sua comissão é a mais influente nos esportes de combate.

O UFC aderiu por banir o tratamento em eventos internacionais que são regulados pela própria organização. As comissões atléticas de outros estados e países devem incorporar essa nova lei. A CABMMA (Confederação Brasileira de MMA) proibiu a reposição de testosterona em março para todos os atletas que atuarem no Brasil. Os brasileiros Antonio Pezão Silva e Vitor Belfort estavam entre os sete atletas com autorização para o uso do tratamento nos Estados Unidos.

TRT surgiu para curar o hipogonadismo e outras deficiências hormonais

O hipogonadismo é uma disfunção da gônada, ou ovários e testículos, que para de produzir hormônios e gametas. Essa doença deixa o nível de testosterona baixo e pode ser observado pelos seguintes sintomas: fadiga, perda de libido, memória fraca, e depressão. Em uma amostragem de um milhão de pessoas, apenas cinco ou seis vão desenvolver a doença. O teste para obter o diagnóstico tem que ser refeito várias vezes, pois a secreção de hormônio é cíclica e pode apresentar resultados errôneos. As pessoas que portam essa doença são obrigadas a fazer reposição de testosterona para poderem levar uma vida normal.   Além do hipogonadismo, outros fatores podem causar a queda do nível hormonal. O uso contínuo de remédios à base de cortisona é um deles, alem de infecção por HIV, obesidade mórbida, estresse e um traumatismo da bolsa escrotal.

Uso de anabolizantes pode causar diminuição de testosterona no organismo

A principal causa exógena (externa) da diminuição do nível de testosterona é o uso contínuo de anabolizantes. Atletas que usaram substâncias de aumento de desempenho tendem a ter taxas hormonais baixas no final da carreira.

Ai entra o dilema, não existe nenhuma forma científica de provar que o atleta está com falta de testosterona por uso de anabolizantes no passado. Se a pessoa usou substâncias de aumento de desempenho durante a vida toda, vai ter desenvolvido mais músculos e uma melhor memória muscular. Então, caso esta mesma pessoa use o tratamento de reposição de testosterona para continuar competindo, estará trapaceando duas vezes. As exceções para uso do TRT no MMA, na sua maioria, eram baseadas nos exames de sangue e não em um laudo médico atestando alguma doença. A pessoa com falta de testosterona deve se medicar para viver normalmente, independente de praticar esportes de alto nível ou não. Homens que sofrem com falta de testosterona no sangue são raros na população, quanto mais em um universo menor, que são os lutadores de MMA.

O uso do TRT para pessoas com deficiência é correto e necessário. O problema são atletas que se aproveitam dessa autorização para aumentar sua capacidade de treino e desempenho. O normal da proporção de hormônio endógeno (interno) pelo exógeno (externo) é de ¼ no máximo 1/6. O lutador americano Chael Sonnen chegou a ter o nível bizarro de 1/16 quando foi suspenso após a luta contra Anderson Silva. A maioria dos médicos concordam que qualquer atleta que pare o tratamento vai sofrer crises de abstinência no treino e também no seu cotidiano.

Autorização para uso do TRT é rara no esporte mundial

O UFC tinha cinco atletas com autorização para uso de TRT quando o tratamento foi banido pela comissão atlética. O UFC mantinha essa exceção em eventos interestaduais ou internacionais, que não eram regulados pela comissão. O UFC é uma das poucas organizações, particulares ou não, a autorizar a reposição de testosterona.

Veja como o TRT é visto pelas grandes organizações do esporte mundial. A NFL (Liga profissional de futebol americano nos EUA) não abre nenhuma exceção faz cinco anos. O Comitê Olímpico Internacional não autorizou nenhum dos 10.500 atletas a usarem reposição de testosterona nos jogos de Londres. A MLB (liga de baseball dos EUA) emitiu apenas seis autorizações em seis temporadas, sendo que mais de 1200 atletas competem por ano. O UFC tem no máximo 550 lutadores contratados.

A WADA (World Anti-Doping Agency) é o principal órgão regulador de substâncias de aumento de desempenho no mundo. O UFC não é filiado à WADA por ser uma entidade particular. Essa agência proíbe o TRT, e não abre exceção nem para portadores de Hipogonadismo.

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Os testes em atletas de MMA são considerados brandos em relação a outros esportes. Os lutadores normalmente são testados apenas após o combate. A pouca periodicidade dos testes deixa uma lacuna para o atleta abusar de substâncias proibidas durante todo o período de treinamento. Pouco antes do combate, o lutador para de usar o anabolizante, e consegue passar no teste antidoping.

Vitor Belfort começou TRT após derrota para Anderson Silva.

Vitor Belfort surgiu no mundo da luta com apenas 19 anos. O carioca, aluno da lenda Carlson Gracie, era uma grande promessa de cinturão para o Brasil. Vitor aniquilou seus primeiros adversários com seus punhos rápidos e Jiu Jitsu de primeira.  Após o período inicial de sucesso, Vitor teve dificuldades em vencer os maiores nomes do esporte, especialmente quando lutava com adversários maiores e mais pesados. Vitor entre 27 e 29 anos, idade que a maioria dos atletas chega ao ápice da forma física, teve apenas duas vitórias e foi derrotado cinco vezes. Um dia antes de completar 30 anos, Vitor foi pego no antidoping pela primeira vez. Após cumprir a suspensão, Vitor teve cinco vitórias consecutivas, perdendo apenas para a lenda do MMA Anderson Silva.

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Após ser derrotado por Anderson com um chute espetacular no queixo, Vitor resolveu começar a fazer reposição de testosterona. Após o TRT, brasileiro acumulou cinco vitórias em seis lutas, perdendo apenas para o melhor lutador da atualidade Jon Jones. Vitor aceitou essa luta de supetão, contra um adversário maior e mais forte.

As vitórias vieram de forma espetacular, foram cinco nocautes sobre lutadores de ponta, sendo quatro no primeiro assalto.

Vitor já vinha sendo criticado pelo excesso de vigor, e muitos questionavam essa sobrevida da carreira aos 36 anos. A maioria das lutas de Vitor usando TRT foi realizada fora de Las Vegas. Foram três lutas no Brasil e uma no Canadá, lugares em que a comissão atlética de Nevada não atua. Vitor era constantemente testado por ter a autorização do uso do TRT, ele passou em inúmeros testes no Brasil e no exterior. O brasileiro só veio a falhar em fevereiro deste ano. Com a proibição do uso do TRT Vitor teve que adiar sua disputa de cinturão contra o americano Cris Weidman.

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O brasileiro, agora sem o TRT, vai enfrentar Weidman em fevereiro na cidade de Los Angeles.

Chael Sonnen, Forrest Griffin, Dan Henderson, Nate Marquardt , Frank Mir e Antonio Pezão são grandes estrelas do MMA que tinham autorização para praticar a reposição de testosterona. O brasileiro Antonio Silva, mais conhecido como Pezão, tem uma doença chamada acromegalia. Essa doença é associada com o gigantismo, e tem histórico de diminuir os níveis de testosterona. Silva, mesmo com essa enfermidade, não poderá continuar fazendo reposição hormonal pelo banimento total do procedimento. Mesmo clinicamente apto para fazer a reposição, Silva foi pego no doping por estar com os níveis de testosterona acima dos normais.

Vitor Belfort, em entrevista recente, afirmou estar no melhor momento físico da vida dele mesmo sem o uso do TRT.

Se todos esses atletas vão conseguir continuar lutando e levando uma vida normal sem o TRT, a pergunta que fica é a seguinte; Deveriam ser anuladas as vitórias e títulos obtidos com o uso da reposição de testosterona?

Outros esportes são extremamente rígidos com atletas que falham os testes. A nadadora brasileira Rebeca Gusmão foi banida do esporte depois de testar positivo para TRT, ela nunca mais poderá participar de uma competição oficial. O ciclista americano Lance Armstrong foi de herói a vilão em poucos anos. Lance foi aclamado por sobreviver a um câncer e ainda assim ganhar a volta da França, prova mais dura do ciclismo mundial. Mas depois de assumir o uso de anabolizantes a vida toda, ele teve que devolver as premiações e foi despojado de todos seus títulos. As estrelas do atletismo Ben Johnson e Marion Jones tiveram suas medalhas olímpicas confiscadas por assumir o uso de anabolizantes.

O nadador brasileiro César Cielo e a ginasta Daiane dos Santos também foram pegos com substâncias proibidas e suspensos de competições, são os casos de doping que mais repercutiram no Brasil.

Confira o bate-papo que tivemos com o médico curitibano especialista em esportistas de elite Dr. Gustavo Otto:

• 1-Existe alguma idade limite para praticar esportes profissionalmente? Quais as principais variáveis que aumentam a vida útil de um atleta profissional?

Dr. Gustavo Otto –  A idade é algo muito relativo, na verdade o que acaba nos limitando, mesmo que parcialmente, a exercer alguma atividade física são as comorbidades que se apresentam junto à idade. Tais quais, a hipertensão descompensada, artroses ou alguma outra doença incapacitante. No entanto, temos vários exemplos de pessoas com mais idade que são praticantes assíduos de esportes, inclusive de artes marciais. Portanto, não diria que a idade é de alguma forma limitante para a prática de atividades físicas.

• 2- Qual sua opinião sobre a proibição do uso de TRT (tratamento de reposição hormonal) por esportistas profissionais? Você acha correto o uso desse tratamento para atletas com idade mais avançada?

Dr. Gustavo Otto – Sempre um tema polêmico. Eu particularmente não vejo problema algum com o uso da TRT, desde sejam mantidos os níveis fisiológicos de testosterona. Aqui temos um problema… Os níveis de referência considerados fisiológicos são muito variáveis (os valores variam conforme o “kit” de avaliação laboratorial). Vamos a um exemplo: um atleta faz sua dosagem hormonal de rotina (sem nunca ter feito qualquer tipo de modulação hormonal) e o resultado de sua testosterona total é de 300 – um valor baixo, mas considerado normal. Após submeterem-se a TRT seus níveis hormonais sobem e sua testosterona agora é de 800 (quase 3x maior que a anterior). A dosagem de 300 ainda é considerada normal / fisiológica. Nesse ponto não vejo problema algum em fazer a TRT, pois existem atletas cujo nível basal de texto é de 700… 800..900.

Agora se o mesmo atleta submeter-se à TRT e seus níveis hormonais atingirem valores maiores: 1000 2000… Aí é diferente. Deixo claro que essa é minha opinião.

Outro fator que acho importante ressaltar é justamente como essa TRT vai ser feita. Sabemos que existem diferentes tipos de drogas (testosterona) cada uma com potenciais androgênicos e anabólicos particulares. Uma testosterona sintética como uma Durateston ou Deposteron tem um poder centenas de vez maior do que uma testosterona bioidêntica, por exemplo. Aqui defendo a TRT praticada com hormônios bioidênticos.

Aqui novamente a idade é o que menos importa a TRT deveria ser aplicada a pacientes que necessitem melhorar seus níveis hormonais independentemente da idade. Tenho vários pacientes acima de 50-60 anos com níveis hormonais maiores do que alguns garotos de 18 anos (sem nunca terem feito TRT).

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